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Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 2 - Capítulo 3 - Origens da literatura portuguesa - Atividades - Leitura: Gil Vicente

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Você vai ler, a seguir, um trecho de O auto da barca do inferno, uma das peças mais conhecidas de Gil Vicente. As cenas ocorrem à margem de um rio, onde estão ancorados dois barcos: um é dirigido por um anjo e leva as almas que, de acordo com seu julgamento, serão conduzidas ao céu; o outro é dirigido pelo diabo, que levará as almas condenadas ao inferno. Entre o começo e o final da peça, desfila uma verdadeira galeria de tipos sociais — um nobre, um frade, um sapateiro, um judeu, uma alcoviteira, um enforcado, entre outros —, compondo um rico painel das fraquezas humanas. Para o barco do paraíso vão apenas o parvo (um bobo) e um cruzado; todos os demais são condenados ao inferno.

Diabo [...] entrai! Eu tangerei e faremos um serão. Essa dama é ela vossa?

Frade Por minha la tenho eu e sempre a tive de meu.

Diabo Fezestes bem, que é fermosa. E não vos punham lá grosa no vosso convento santo?

Frade E eles fazem outro tanto!...

Diabo Que cousa tão preciosa! Entrai, padre reverendo!

Frade Para onde levais gente?

Diabo Pera aquele fogo ardente, que nom temeste vivendo.

Frade Juro a Deus que nom te entendo! E este hábito nom me val?

Diabo Gentil padre mundanal, a Berzabu vos encomendo!

Frade Ah corpo de Deus consagrado! Pela fé de Jesu Cristo que eu nom posso entender isto! Eu hei de ser condenado?! Um padre tão namorado e tanto dado a virtude! Assi Deus me dê saúde que eu estou maravilhado!

Diabo Nom cureis de mais detença! Embarcai e partiremos. Tomareis um par de remos.

Frade Nom ficou isso na avença.

Diabo Pois dada está já a sentença! [...]

(Auto da barca do inferno. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996. p. 80-82. Notas de Ivan Teixeira.)

avença: acordo. detença: não pense em mais atraso. grosa: lá, no convento, não grosavam (censuravam, proibiam) o fato de você ter uma namorada? meu: tive-a como coisa minha. mundanal: mundano. serão: festa. tangerei: tocarei. val: vale. O frade alude ao fato de ele ser da ordem dominicana, muito temida na época. Ou, simplesmente, à sua condição de religioso.

O diabo, ao receber o frade, estranha a pessoa que está em sua companhia.

Deduza: qual é a causa desse estranhamento?

Resposta:

Um celibatário não deveria estar acompanhado de uma mulher, que diz ser sua.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 9 - O adjetivo, o artigo e o numeral - Atividades - Semântica e discurso

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Leia a tira:

No 1º. quadrinho, Zezé faz um pedido à irmã.

Resposta:

a) Os artigos utilizados são: o em o livro e a na contração da em da biblioteca. Os artigos são definidos, pois Zezé se refere a um livro específico, conhecido por ele e pela irmã, assim como a uma biblioteca também conhecida pelos dois. 

b) Que ele sempre perde o livro, visto que ela usa a expressão “de novo”.

c) Professor: Na 1ª. frase, o mais esperado é que escrevam primeira, em razão da construção não é a; na 3ª., uma, considerando a concordância com a palavra vez. Nas demais, há variadas possibilidades de resposta. Confronte as escolhas dos alunos e discuta com eles os efeitos de sentido construídos, por exemplo: quinta, décima, centésima, milésima, etc. na 2ª .frase e dez, quinze, duzentas, quinhentas mil, etc.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 7 - Capítulo 17 - O Simbolismo no Brasil - Atividades - Leitura: Alphonsus de Guimaraens

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O poema que segue é o mais popular de Alphonsus de Guimaraens.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar… Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar… Queria subir ao céu, Queria descer ao mar…

E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar…

Estava perto do céu, Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu As asas para voar… Queria a lua do céu, queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par… Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar…

(Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. p. 467.)

Alguns poemas de Alphonsus de Guimaraens ligam-se à tradição medieval. Observe no texto os seguintes aspectos formais: métrica, ritmo e paralelismo. 

Resposta:

a) Sim, pois faz uso da redondilha maior, de versos ritmados e de estruturas paralelísticas, como “Viu uma lua no céu, / Viu outra lua no mar”, recursos comuns na poesia medieval.

b) O Romantismo.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 10 - O pronome - Atividades - Pronomes demonstrativos, indefinidos e interrogativos

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Leia este anúncio:

No enunciado central, em letras azuis e pretas, o anúncio emprega as palavras todos, tudo e quem. Troque ideias com os colegas e o professor:

Resposta:

a) Não, pois são palavras imprecisas, que fazem referência a um grupo genérico.

b) No contexto do anúncio, é possível perceber, especialmente pelo trecho em letras azuis, alguns dos referentes, por exemplo, as pessoas que usam a internet, em geral (“mundo conectado”); “a imprensa” e a fala da imprensa “tem responsabilidade em tudo o que fala”.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 2 - Capítulo 3 - Origens da literatura portuguesa - Atividades - Literatura comparada

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A canção “Monte Castelo”, de Renato Russo, que integrava o grupo Legião Urbana, estabelece diálogos com um soneto de Camões e com um trecho da Bíblia. Conheça e compare os três textos.

TEXTO 1

Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(Luís de Camões. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 123.)

TEXTO 2

A suprema excelência da caridade

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.

(Primeira epístola de S. Paulo aos Coríntios, 13.1, 2, 3. A Bíblia sagrada. Trad. por João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1962. Parte 2, p. 201.)

TEXTO 3

Monte Castelo

Ainda que eu falasse a língua dos homens.  E falasse a língua dos anjos, sem amor eu [nada seria.

É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.  E falasse a língua dos anjos, sem amor eu [nada seria.

É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder

É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrário a si é o mesmo amor.

Agora vejo em parte. Mas então veremos [face a face.

É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.  E falasse a língua dos anjos, sem amor eu [nada seria.

(Legião Urbana. As quatro estações, 1989.)

Monte Castelo: nome do local, na Itália, que foi tomado pelos soldados brasileiros no final da Segunda Guerra Mundial.

Na poesia camoniana, geralmente Amor (grafado com letra maiúscula) é diferente de amor. Enquanto este é a expressão do sentimento individual e particular de uma pessoa por outra, o Amor representa uma entidade, o amor-ideia, o amor abstrato e universal.

A que tipo de amor o soneto de Camões se refere?

Resposta:

Ao amor-ideia, o amor universal. Professor: Chame a atenção dos alunos para o fato de que o poeta está “filosofando” a respeito do amor, e não falando de seus sentimentos pessoais.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 2 - Capítulo 4 - O Quinhentismo no Brasil - Atividades - Leitura

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Você vai ler, a seguir, três fragmentos da Carta de Pero Vaz de Caminha, o primeiro texto oficialmente escrito no Brasil por ocasião da chegada dos navegantes portugueses. Além disso, vai comparar esses textos a uma tira de Nilson e a um cartum de Marcos Müller.

TEXTO 1

Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram.

E o capitão mandou no batel, à terra, Nicolau Coelho para ver aquele rio; e quando começou a ir para lá acudiram, à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar quebrava na costa.

(In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura Comentada.)

batel e esquife: barcos pequenos.

TEXTO 2

Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço […] Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal de prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal como que havia, também, prata.

Mostraram-lhe um papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia ali; mostraram-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe queriam pôr a mão; e depois a pegaram como que espantados.

(Idem.)

alcatifa: tapete grande.

TEXTO 3

De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.

(Idem.)

TEXTO 4

TEXTO 5

Segundo Pero Vaz de Caminha, Nicolau Coelho não conseguiu comunicar-se oralmente com os índios.

Resposta:

a) O barulho das ondas do mar que rebentavam na costa.

b) O fato de falarem línguas diferentes.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 1 - Capítulo 2 - Texto e discurso — Intertexto e interdiscurso - Atividades - Semântica e discurso

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Leia o anúncio a seguir e responda à questão

.

Identifique a intertextualidade que há no anúncio. Depois responda: De que modo ela é indicada no anúncio?

Resposta:

A intertextualidade está na citação explícita de uma frase de Benjamin Franklin. Ela é indicada pelo uso de aspas e pela citação da autoria.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 12 - O advérbio - Atividades - Construindo o conceito

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Leia, a seguir, uma dica para economizar espaço ao arrumar a mala.

(Disponível em: https://twitter.com/alleta_tur/status/965595643711500289/photo/1. Acesso em: 20/4/2021.)

Ao sugerir a utilização de organizadores para malas, o texto faz uma suposição sobre a relação do leitor com esses organizadores. Qual é a frase que contém essa suposição?

Resposta:

“Provavelmente você já ouviu falar deles, mas nunca experimentou.”

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 9 - Capítulo 21 - O romance de 30 - Atividades - Leitura: José Lins do Rego

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O texto a seguir, extraído do romance Fogo morto, encontra-se no capítulo que narra as agruras do Coronel Lula de Holanda, senhor do então decadente engenho Santa Fé. O trecho mostra a perda de autoridade de Lula de Holanda na tentativa de expulsar de suas terras um dos moradores, o mestre Amaro.

Parara na porta da casa-grande do Santa Fé um cargueiro com uma carta para o senhor de engenho. Seu Lula chamou D. Amélia.

— Vem cá, Amélia, lê isto, hein, vê que desaforo.

 Era um bilhete do Capitão Antônio Silvino em termos de ordem. Mandava dizer que o mestre José Amaro tinha que ficar no sítio, até quando ele bem quisesse. A casa inteira se alarmou com a notícia. O negro Floripes atribuía tudo ao mestre. Bem que ele dizia todos os dias que aquele homem tramava uma desgraça para o povo do Santa Fé. O velho Lula entrou para o santuário e rezou muito. Nunca se vira tanta ruindade. D. Amélia, que esperava por um estouro do marido, espantou-se da calma que ele apresentara. Não falou com mais ninguém durante o resto do dia. Na manhã seguinte tomou o carro e saiu para o Santa Rosa. Lá conversou com o velho José Paulino que se alarmou com a notícia. Era o diabo. Mas quem podia com o cangaceiro que mandava por todo o interior do Estado, como um governo? Era um absurdo, mas era a verdade. Nada podia fazer contra a força. O Coronel Lula de Holanda voltou do engenho vizinho mais calmo ainda! Em casa, não dava uma palavra. D. Amélia e a filha Neném pensaram em abandonar a casa-grande, em fugir para a capital. Antônio Silvino com raiva de uma criatura fazia o diabo. Não viram o que sucedera ao prefeito, ao Comendador Quinca Napoleão? O que podiam fazer eles, que eram tão fracos, tão sem ajuda de ninguém? Seu Lula não sairia de seu engenho. Que viessem, podiam tocar fogo em tudo que era seu, mas dali não sairia. Aquele mestre José Amaro que se aprontasse para deixar a propriedade. E chamou Floripes:

— Ó Floripes!

O negro se chegou para receber as ordens do senhor.

— Vá ao sítio do mestre José Amaro e lhe diga, hein, que só tem três dias para mudar-se.

O negro, de cabeça baixa, saiu para a casa do engenho. Não iria fazer uma coisa desta. Ele sabia que o mestre, se o pegasse de jeito, faria uma desgraça. Com pouco mais, chegava ao Santa Fé o Capitão Vitorino. A burra velha estava amarrada na casa da farinha. Viera conversar com o primo sobre política. Seu Lula, muito calado, ouvia-o, até que, como se estivesse tratando com um inimigo, se abriu com a visita. Não era homem de pabulagem, de mentira. Não se metia em política, não contasse com o nome dele para coisa alguma. Vitorino levantou a voz para dizer-lhe que não era um camumbembe e nem estava ali para pedir favor de espécie alguma. Não era cabra de bagaceira. Estava muito enganado. Apareceu D. Amélia para acalmá-los.

— É o que lhe digo, Seu Coronel Lula de Holanda. O seu primo Vitorino Carneiro da Cunha não está aqui de mão estirada pedindo esmola. Sou homem de um partido.

— Capitão Vitorino — disse-lhe D. Amélia — o Lula não quis ofender.

Seu Lula se levantara, e de pé, na porta da casa, parecia que olhava para a estrada à espera de alguém, tão embebido estava.

— É, Dona Amélia, estes parentes ricos só pensam que os parentes pobres estão de esmola. Estou aqui para uma causa política. Não sou uma coisa qualquer.

— Não precisa dizer, capitão. Não precisa dizer.

Aí Seu Lula voltou, como se não estivesse fora por completo da conversa.

— O que foi, Amélia? Hein, Amélia, o que foi?

— Ora o que foi, Coronel Lula de Holanda. Não sou homem para ser desfeiteado.

— Desfeiteado, hein, capitão?

— Sim senhor, desfeiteado. E outra coisa: aqui estou para defender um seu morador.

— Como, capitão?

— Defender um seu morador.

— Que morador? perguntou D. Amélia.

— Eu lhe conto, D. Amélia. Passando hoje pela porta do meu compadre José Amaro, ele me convidou para tomar conta de sua causa. Eu não sou homem de questão, mas estimo o compadre, é padrinho de meu filho.

Aí Seu Lula chegou-se para perto do outro.

— O que ele está dizendo, hein, Amélia?

— Está falando do mestre José Amaro.

— Não adianta, hein, não adianta, capitão. Aqui nesta casa manda o senhor de engenho, hein, capitão.

Vitorino levantou-se, e não se amedrontou.

— Comigo ninguém grita. Sou tão branco quanto você, Seu Coronel. Sou homem para tudo.

D. Amélia, pálida, via que as coisas marchavam para um desastre. O marido, que há dois dias parecia tão calmo, tão sereno, agora era o mesmo Lula de sempre. O Capitão Vitorino, de pé, falava aos gritos. Apareceu o negro Floripes na porta, chegou o boleeiro Pedro, e seu Lula gritar com o capitão:

— Ponha-se para fora desta casa. Quem manda aqui é o senhor de engenho.

— Vá gritar para os seus negros, velho.

— Ponha-se para fora.

— Não é preciso mandar. Vou embora, e só não lhe digo muita coisa, em atenção à sua esposa. É mulher de respeito. [...]

— Eu só não faço uma desgraça na porqueira desse engenho, por causa da D. Amélia — gritava Vitorino, de cima da burra.

E quando ia ele saindo, Seu Lula procurou segurar-se no esteio da porta. Caiu com o corpo todo no chão, com o ataque que há mais de ano não tinha. Daquela vez como se estivesse morto. D. Amélia e Floripes levaram o velho para a cama.

Vitorino saiu de estrada afora a gritar:

— Bando de mucufas. [...]

[...] Quando foi de madrugada o Capitão Vitorino mandou selar a burra e voltou para o Pilar.

Tinha uma causa para defender e não deixaria o compadre no desamparo. O dia ainda estava escuro. Na fonte do riacho do Corredor viu-se cercado por uma tropa. Era o Tenente Maurício que vinha descendo para o Pilar. O oficial perguntou de onde vinha, e se não sabia notícias de Antônio Silvino. Vitorino falou para o homem, num tom agressivo.

— Tenente, por aqui é que o senhor não encontra o bandido. Era por aqui que andava o Major Jesuíno, atrás dos cangaceiros, e nunca disparou um tiro.

— Não estou pedindo a sua opinião, velho.

— Sou o Capitão Vitorino Carneiro da Cunha.

— Não estou perguntando o seu nome.

— Mas eu lhe digo.

— Então passe de largo e siga o seu caminho.

— Não me faz favor, tenente.

— Cala a boca, velho besta.

— Só quando a terra comer, tenente. Vitorino Carneiro da Cunha diz o que sente.

— Pois não diz agora.

— Quem me empata? O senhor? Ainda não nasceu este.

— O que é que este velho quer?

— O que eu quero é que o senhor acabe com Antônio Silvino.

— Cabo, pega este velho.

— Vá pegar os cangaceiros.

Vitorino saltou da burra e se fez no punhal. Mas já estava dominado pelos soldados. E gritava:

— Tenente de merda.

Uma bofetada na cara do capitão fez correr sangue da testa larga.

— Amarre este velho, e vamos com ele para a cadeia do Pilar.

A tropa saiu com o Capitão Vitorino Carneiro da Cunha todo amarrado de corda, montado na burra velha que os soldados chicoteavam sem pena. Corria sangue da testa ferida do capitão. A luz vermelha da madrugada banhava o canavial que o vento brando tocava de leve. Marchava o capitão na frente da tropa, como uma fera perigosa que tivessem domado com tremendo esforço. Os moradores vinham olhar e os homens se espantavam de ver o velho que todos sabiam tão manso, amarrado daquele jeito. Vitorino falava alto:

— Estes bandidos me pagam.

[...]

(Fogo morto. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1989. p. 198-203.)

Considerando que o Coronel Lula de Holanda foi um importante senhor de engenho, o que representam para ele a carta do cangaceiro Antônio Silvino e a discussão com o primo Vitorino?

Resposta:

As duas situações representam para ele a perda de autoridade.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 5 - Capítulo 12 - A prosa gótica - Atividades - Leitura

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Capítulo II Solfieri

Sabei-o. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo, que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença!

Era em Roma. [ ] A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se faziam ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. A face daquela mulher era como de uma estátua pálida à lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.

Eu me encostei à aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento à noite nos cemitérios, cantando a nênia das flores murchas da morte.

Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu ninguém: saiu. Eu segui-a.

Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas, enfim ela parou: estávamos num campo.

Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.

O frio da noite, aquele sono dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços, e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo

Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava; no sono da saciedade me vinha aquela visão

Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Barbora. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota do vinho do deleite...

Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta!... e aqueles traços todos me lembraram uma ideia perdida... Era o anjo do cemitério! Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo [...] Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo os despe à noiva. [...] O gozo foi fervoroso — cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, à febre de meus lábios, à convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados [...] Não era já a morte; era um desmaio. [...]

Nunca ouvistes falar da catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que se sentem os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida!

A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar-me da porta topei um corpo, abaixei-me, olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormia de ébrio, esquecido de fechar a porta...

Caminhei. Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo; e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço...

Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo...

Dois dias e duas noites levou ela de febre assim... Não houve sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.

À noite saí; fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera, e paguei-lhe uma estátua dessa virgem.

Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore de meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo.

Tomei-a então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.

Um ano — noite a noite — dormi sobre as lajes que a cobriam Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. Paguei-lha e paguei o segredo...

— Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entrevistes pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?

— E quem era essa mulher, Solfieri?

— Quem era? Seu nome?

— Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho queima assaz os lábios? Quem pergunta o nome da prostituta com quem dormiu e sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa?

Solfieri encheu uma taça e bebeu-a. Ia erguer-se da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço.

— Solfieri, não é um conto isso tudo?

— Pelo inferno que não! Por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas, pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra, eu vo-lo juro! — guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. Ei-la!

Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.

— Vede-a? Murcha e seca como o crânio dela!

amásia: mulher que vive maritalmente com uma pessoa, sem estar casada com ela. frenesi: agitação interior, arrebatamento. lascivo: sensual. lívido: de cor semelhante à do chumbo, própria de cadáveres. nênia: canto fúnebre. círio: grande vela de cera. catalepsia: doença em que a pessoa entra em estado mórbido, como se tivesse morrido. cicuta: tipo de planta. embuçar: cobrir até o rosto. empanado: ofuscado, baço. lívido: de cor semelhante à do chumbo, própria de cadáveres. saciedade: estado de satisfação de quem se saciou. sudário: mortalha que envolve o cadáver. tez: pele assaz: muito. mister: necessidade.

(Álvares de Azevedo. Noite na taverna. São Paulo: Martins, 1965. p. 39.)

A narrativa se desenvolve numa atmosfera de expectativa e surpresas, criada pelo ambiente em que se desenrolam as ações e pelo emprego de algumas técnicas de suspense. 

Resposta:

a) Ambientes noturnos, decadentes e mórbidos; as ruas de Roma à noite, o cemitério, as orgias, a igreja com o corpo da virgem, o quarto com o túmulo e a taverna.

b) Por meio do tropeço no corpo do coveiro, bêbado.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 5 - Capítulo 11 - O romance romântico - Atividades - Leitura: Manuel Antônio de Almeida

8773553

A seguir você lerá dois textos. O primeiro é um fragmento de Memórias de um sargento de milícias; o segundo é extraído de Senhora e mostra dois episódios do romance: a cena do casamento entre Aurélia e Seixas e a cena da noite de núpcias do casal.

TEXTO 1

[…] Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos; foram os dois morar juntos; e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia função: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado. O compadre trouxe a rabeca, que é, como se sabe, o instrumento favorito da gente do ofício. A princípio, o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se dançasse o minuete da corte. Foi aceita a ideia, ainda que houvesse dificuldade em encontrarem-se pares. Afinal levantaram-se uma gorda e baixa matrona, mulher de um convidado; uma companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese da sua; um colega do Leonardo, miudinho, pequenino, e com fumaças de gaiato, e o sacristão da Sé, sujeito alto, magro e com pretensões de elegante. O compadre foi quem tocou o minuete na rabeca; e o afilhadinho, deitado no colo da Maria, acompanhava cada arcada com um guincho e um esperneio. Isto fez com que o compadre perdesse muitas vezes o compasso, e fosse obrigado a recomeçar outras tantas.

Depois do minuete foi desaparecendo a cerimônia, e a brincadeira aferventou, como se dizia naquele tempo. Chegaram uns rapazes de viola e machete: o Leonardo, instado pelas senhoras, decidiu-se a romper a parte lírica do divertimento. Sentou-se num tamborete, em um lugar isolado da sala, e tomou uma viola. Fazia um belo efeito cômico, vê-lo, em trajes do ofício, de casaca, calção e espadim, acompanhando com um monótono zum-zum nas cordas do instrumento o garganteado de uma modinha pátria. Foi nas saudades da terra natal que ele achou inspiração para o seu canto, e isto era natural a um bom português, que o era ele. […]

O canto do Leonardo foi o derradeiro toque de rebate para esquentar-se a brincadeira, foi o adeus às cerimônias. Tudo daí em diante foi burburinho, que depressa passou à gritaria, e ainda mais depressa à algazarra. […]

(Manuel Antônio de Almeida. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Ática, 1976. p. 9-11.)

derradeiro: último. enojo: enjoo, náusea. função: espetáculo. instar: pedir, solicitar, insistir. machete: pequeno instrumento musical menor que um cavaquinho e maior que uma viola. minuete: antiga dança francesa com movimentos delicados e equilibrados. rabeca: nome antiquado do violino. rebate: sinal, anúncio. Tejo: rio de Portugal.

TEXTO 2

Os convidados, que antes lhe admiravam a graça peregrina, essa noite a achavam deslumbrante, e compreendiam que o amor tinha colorido com as tintas de sua palheta inimitável, a já tão feiticeira beleza, envolvendo-a de irresistível fascinação.

— Como ela é feliz! — diziam os homens.

— E tem razão! — acrescentaram as senhoras volvendo os olhos ao noivo.

Também a fisionomia de Seixas se iluminava com o sorriso da felicidade. O orgulho de ser o escolhido daquela encantadora mulher ainda mais lhe ornava o aspecto já de si nobre e gentil.

Efetivamente, no marido de Aurélia podia-se apreciar essa fina flor da suprema distinção, que não se anda assoalhando nos gestos pretensiosos e nos ademanes artísticos; mas reverte do íntimo com uma fragrância que a modéstia busca recatar, e não obstante exala-se dos seios d’alma.

Depois da cerimônia começaram os parabéns que é de estilo dirigir aos noivos e a seus parentes.

[...]

Para animar a reunião as moças improvisaram quadrilhas, no intervalo das quais um insigne pianista, que fora mestre de Aurélia, executava os melhores trechos de óperas então em voga.

Por volta das dez horas despediram-se as famílias convidadas.

[...]

Aurélia ergueu-se impetuosamente.

— Então enganei-me? — exclamou a moça com estranho arrebatamento. — O senhor ama-me sinceramente e não se casou comigo por interesse?

Seixas demorou um instante o olhar no semblante da moça, que estava suspensa de seus lábios, para beber-lhe as palavras:

— Não, senhora, não enganou-se, disse afinal com o mesmo tom frio e inflexível. Vendi-me; pertenço-lhe. A senhora teve o mau gosto de comprar um marido aviltado; aqui o tem como desejou. Podia ter feito de um caráter, talvez gasto pela educação, um homem de bem, que se enobrecesse com sua afeição; preferiu um escravo branco; estava em seu direito, pagava com seu dinheiro, e pagava generosamente. Esse escravo aqui o tem; é seu marido, porém nada mais do que seu marido!

(José de Alencar. Senhora. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 75 e 127.)

ademane: aceno, trejeito, qualquer gesto ou comportamento afetado. arrebatamento: exaltação, arroubo, comportamento precipitado. aviltado: desonrado, rebaixado, envilecido. insigne: destacado, famoso, ilustre. não obstante: apesar disso, contudo

Os dois textos apresentam em comum o ambiente urbano do Rio de Janeiro do século XIX e o relacionamento entre homem e mulher.

Resposta:

a) O texto 1 retrata as camadas mais humildes da sociedade (o meirinho Pataca, o barbeiro, a parteira, etc.), enquanto o texto 2 retrata a alta sociedade, conforme se percebe pela referência aos “salões”.

b) No texto 1, quando Leonardo e Maria das Hortaliças chegam ao Brasil, vão morar juntos sem se casarem; logo, para esse grupo social o casamento parece ter valor secundário. No texto 2, o casamento é visto como meio de enriquecimento e ascensão social.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 12 - O advérbio - Atividades - O advérbio na construção do texto

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Leia esta crônica, de Luis Fernando Verissimo:

De domingo

— Outrossim… — O quê? — O que o quê? — O que você disse. — Outrossim? — É. — O que é que tem? — Nada. Só achei engraçado. — Não vejo a graça. — Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias. — Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo. — Se bem que parece mais uma palav ra de segunda-feira. — Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”. — “Ônus”. — “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”. — “Resquício” é de domingo. — Não, não. Segunda, no máximo terça. — Mas “outrossim”, francamente… — Qual é o problema? — Retira o “outrossim”. — Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”. Tem que saber a hora certa. Além do dia. — Aliás, uma palavra que uso pouco é “aliás”. — Pois você não sabe o que está perdendo. “Aliás” é ótimo. Muito bom também é “não obstante”. — “Não obstante”! Acho que essa eu nunca usei. — “Não obstante” é de sábado. — Quais são as outras palavras de domingo? — Bem, tem “bel-prazer”. — “Bel-prazer” é fantástico. — “Trâmites”, “paulatino” ou “paulatinamente”, “destarte”… — “Amiúde” é de domingo? — Não, meio de semana. De domingo é “assaz”. — Mas o que é que você estava dizendo? — O que era mesmo? Eu parei no outrossim… — Não. Eu não aceito outrossim. — Como, não aceita? — Não quero. Outrossim, não. Usa outra palavra. — Mantenho o outrossim. — Então é fim de papo. — Você vai me tirar o outrossim da boca? Eu tive um trabalho danado para arranjar uma frase para encaixar o outrossim e agora não posso usar? — Pra cima de mim, não. — Deveras, eu… — Deveras não! — Mas deveras é de domingo. — Não. Retira o deveras. Retira o deveras!

(Novas comédias da vida privada. Porto Alegre: LePM, 1996. p. 158-159.)

A crônica é construída com base no diálogo entre dois personagens. O que motiva a discussão entre eles?

Resposta:

A simpatia ou antipatia que eles têm por certas palavras.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 9 - Capítulo 22 - A poesia de 30 - Atividades - Leitura: Carlos Drummond de Andrade

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A seguir, você vai ler um dos poemas que integram a obra Sentimento do mundo.

Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo. Por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno. Só agora vejo que nele não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua. A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. Mas também a rua não cabe todos os homens. A rua é menor que o mundo. O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo. Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. Viste as diferentes cores dos homens, as diferentes dores dos homens, sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece. Escuta a água nos vidros, tão calma. Não anuncia nada. Entretanto escorre nas mãos, tão calma! vai’ inundando tudo... Renascerão as cidades submersas? Os homens submersos — voltarão? Meu coração não sabe. Estúpido, ridículo e frágil é meu coração. Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas. (Na solidão de indivíduo desaprendi a linguagem com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos, as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei países imaginários, fáceis de habitar. ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio. Meus amigos foram às ilhas. Ilhas perdem o homem. Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias, entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. — Ó vida futura! nós te criaremos

(Reunião, cit., p. 60-61.)

Em Mundo grande, há uma contraposição entre duas visões distintas, relacionadas com a trajetória poética de Drummond: a da fase gauche e a da fase social, na qual o poema foi escrito. 

Resposta:

a) Há uma negação de sua visão e de seu posicionamento anteriores, implicitamente o de que, antes, o coração do eu lírico era maior (ou mais importante) do que o mundo.

b) Pode-se depreender uma posição individualista do eu lírico, distanciada em relação ao mundo e aos acontecimentos sociais, como se pode verificar nos trechos que fazem referência a sua visão anterior, tais como “só agora vejo” e “muito maior do que eu esperava”.

c) O eu lírico põe o mundo em primeiro plano e o considera mais importante do que a si próprio, como atestam os versos “Não, meu coração não é maior que o mundo”, “Sim, meu coração é muito pequeno”, “O mundo é grande”.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 9 - Capítulo 22 - A poesia de 30 - Atividades - Literatura comparada: Diálogo entre a poesia de Vinícius de Moraes e a poesia de Camões

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Você vai ler, a seguir, dois poemas de dois dos melhores sonetistas em língua portuguesa: Vinícius de Moraes e Luís de Camões. Observe o modo como ambos trabalham o tema amoroso:

TEXTO 1

Soneto do maior amor

Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer — vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo.

(Vinícius de Moraes. Livro de sonetos. São Paulo: Cia. das Letras, Editora Schwarcz Ltda., 1991. p. 27. Autorizado pela VM Empreendimentos Artísticos e Culturais Ltda. © VM e © Cia. das Letras, Editora Schwarcz.)

fenecer: acabar, terminar, murchar.

TEXTO 2

Tanto de meu estado me acho incerto, Que em vivo ardor tremendo estou de frio; Sem causa, juntamente choro e rio; O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto; Da alma um fogo me sai, da vista um rio; Agora espero, agora desconfio, Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando; Numa hora acho mil anos, e é de jeito Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando, Respondo que não sei; porém suspeito Que só porque vos vi, minha Senhora.

(Luís de Camões. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 117.)

Os dois sonetos são bem trabalhados do ponto de vista das imagens e da sonoridade, entre outros recursos. No soneto de Camões, por exemplo, destaca-se a aliteração dos fonemas /t/ e /p/. Que fonemas se repetem no soneto de Vinícius de Moraes?

Resposta:

Há a aliteração do fonema /k/ na 1ª e na 2ª estrofes; dos fonemas /f/ e /v/ na 2ª e na 3ª estrofes; do fonema /d/ na 4ª estrofe.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 14 - A interjeição - Atividades - Construindo o conceito

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Leia a tira:

No 1º. quadrinho, a ratinha faz uma pergunta a Níquel Náusea

Resposta:

a) Ele arregala os olhos, como se tivesse ficado surpreso ou desconfortável com a pergunta.

b) Dúvida, desconforto.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 8 - Capítulo 18 - O Pré-Modernismo - Atividades - Leitura: Euclides da Cunha

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A seguir, você vai ler quatro textos. Os três primeiros são de Os sertões: o texto 1, retirado da primeira parte da obra, é uma descrição da caatinga; o texto 2, da segunda parte, descreve o sertanejo; e o 3, da terceira parte, trata da guerra e de seu significado. O texto 4 é parte do prefácio que o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de literatura em 1998, fez para o livro Terra, de Sebastião Salgado. Após a leitura dos textos, responda à questão proposta.

TEXTO 1

Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.

Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.

Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante…

(Euclides da Cunha. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 38.)

espinescente: que cria espinhos. estepe: vasta planície ou região semidesértica. flexuoso: sinuoso, ondulante. urticante: que queima como urtiga. vereda: trilha que marca o rumo a seguir

TEXTO 2

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados.

[...]

Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.

Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarado pelo olhar desassombrado e forte; [...] e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado epotente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

(Idem, p. 92-93.)

adormido: adormecido. atonia: perda do tônus, das forças. estadear: manifestar, demonstrar. Hércules: personagem da mitologia caracterizado por ter uma força incomum. neurastênico: fraco, irritado. remorado: adiado, retardado. Quasímodo: personagem corcunda da obra O corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo. tabaréu: soldado inexperiente; pessoa inapta para fazer alguma coisa; caipira. titã: personagem da mitologia; pessoa dotada de força extraordinária. transmutação: ato ou efeito de transformar-se.

TEXTO 3

Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários.

[…]

Fechemos este livro.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

(Idem, p. 405 e 476.)

tenaz: firme.

TEXTO 4

No dia 17 de abril de 1996, no estado brasileiro do Pará, perto de uma povoação chamada Eldorado dos Carajás (Eldorado: como pode ser sarcástico o destino de certas palavras…), 155 soldados da polícia militarizada, armados de espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra uma manifestação de camponeses que bloqueavam a estrada em ação de protesto pelo atraso dos procedimentos legais de expropriação de terras, como parte do esboço ou simulacro de uma suposta reforma agrária na qual, entre avanços mínimos e dramáticos recuos, se gastaram já cinquenta anos, sem que alguma vez tivesse sido dada suficiente satisfação aos gravíssimos problemas de subsistência (seria mais rigoroso dizer sobrevivência) dos trabalhadores do campo. Naquele dia, no chão de Eldorado dos Carajás ficaram 19 mortos, além de umas quantas dezenas de pessoas feridas.

Passados três meses sobre este sangrento acontecimento, a polícia do estado do Pará, arvorando-se a si mesma em juiz numa causa em que, obviamente, só poderia ser a parte acusada, veio a público declarar inocentes de qualquer culpa os seus 155 soldados, alegando que tinham agido em legítima defesa, e, como se isto lhe parecesse pouco, reclamou processamento judicial contra três dos camponeses, por desacato, lesões e detenção ilegal de armas. O arsenal bélico dos manifestantes era constituído por três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura mais ou menos manejáveis. Demasiado sabemos que, muito antes da invenção das primeiras armas de fogo, já as pedras, as foices e os chuços haviam sido considerados ilegais nas mãos daqueles que, obrigados pela necessidade a reclamar pão para comer e terra para trabalhar, encontraram pela frente a polícia militarizada do tempo, armada de espadas, lanças e alabardas. Ao contrário do que geralmente se pretende fazer acreditar, não há nada mais fácil de compreender que a história do mundo, que muita gente ilustrada ainda teima em afirmar ser complicada demais para o entendimento rude do povo.

(José Saramago. In: Sebastião Salgado. Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 11.)

alabarda: arma antiga, formada por haste de madeira em ferro largo e pontiagudo, atravessado por outro em forma de meia-lua. chuço: vara ou pau armado de ponta de ferro ou de aço. simulacro: ação simulada, falsificação.

De acordo com o texto 1, como se caracteriza o lugar onde vive o sertanejo?

Resposta:

No sertão nordestino, a natureza mostra-se rude e pouco receptiva ao homem.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 7 - Capítulo 17 - O Simbolismo no Brasil - Atividades - Literatura comparada

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Os poetas que você vai ler a seguir viveram em épocas diferentes, com intervalo de décadas entre eles. O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) é pós-romântico e considerado um dos pais do Simbolismo; Cruz e Sousa (1862-1898) é considerado o principal poeta do Simbolismo brasileiro; e Augusto dos Anjos (1884-1914), brasileiro, é um escritor pós-simbolista, representante de um momento de transição para o Modernismo. Após a leitura, responda às questões propostas.

TEXTO 1

Spleen — LXXVII

Quando, pesado e baixo, o céu como tampa Sobre a alma soluçante, assolada aos açoites, E que deste horizonte, a cercar toda a campa Despeja-nos um dia mais triste que as noites;

Quando se transformou a Terra em masmorra úmida, Por onde essa esperança, assim como um morcego Vai tangendo paredes ante uma asa túmida Batendo a testa em tetos podres, sem apego;

Quando a chuva estirou os seus longos filames Como as grades de ferro em uma ampla cadeia, E um povoado mudo de aranhas infames Até os nossos cérebros estende as teias,

Súbito, os sinos saltam com ferocidade E atiram para o céu um gemido fremente, Tal aquelas errantes almas sem cidade Que ficam lamentando-se obstinadamente.

— E féretros sem fim, sem tambor ou pavana, Lentos desfilam dentro em mim; e a Esperança, Vencida, chora, a Angústia, feroz e tirana, A negra flâmula em meu curvo crânio lança.

(Charles Baudelaire. In: José Lino Grünewald, org. e trad. Poetas franceses do século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. p. 63.)

TEXTO 2

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves, Que chaveiro do Céu possui as chaves Para abrir-vos as portas do Mistério?!

(Cruz e Sousa. Poesias completas de Cruz e Sousa, cit., p. 94.)

atroz: cruel, desumano. grilhão: corrente, laço, prisão.

TEXTO 3

O morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede…” — Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho. Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh’alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto!

ígneo: que é de fogo ou se assemelha a ele.

(Augusto dos Anjos. Eu e outros poemas. 30. ed. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1965. p. 59.)

O Simbolismo é a linguagem da música. Embora o poema “Spleen — LXXVII”, de Baudelaire, seja uma tradução, o tradutor procurou manter certas sonoridades do texto original, como se nota na aliteração do fonema /s/ em céu, sobre, soluçante, assolada, açoites, súbito, os, sinos, saltam, ferocidade. Identifique nos outros dois poemas situações em que a sonoridade de versos e palavras se destaca.

Resposta:

No texto 2: aliteração do fonema /s/ na 1.ª estrofe: cárcere, soluçando, trevas, as, grades, calabouço, entre outras palavras; no texto 3: aliteração do fonema /m/: meia-noite, meu, me, Meu, morcego, Morde, molho, entre outras, e do fonema /g/ em morcego, orgânica, goela, ígneo, ergo. Ainda se destaca a sonoridade do trecho “Fecho o ferrolho / E olho o teto”.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 7 - Capítulo 17 - O Simbolismo no Brasil - Exercícios - Em dia com o Enem e vestibular

(ENEM)

“Já da morte o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!… já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece… Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive!”

(AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é:



( a )

a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. 

( b )

a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda. 

( c )

o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. 

( d )

o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. 

( e )

o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 10 - O pronome - Atividades - Pronomes pessoais, pronomes de tratamento e pronomes possessivos

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Leia a seguir trechos de três textos de Vinícius de Moraes.

Miragem

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio. Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores Inutilmente. Vieste — tua sombra sem carne me acompanha Como o tédio da última volúpia. Vieste — e contigo um vago desejo de uma volta inútil E contigo uma vaga saudade… És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo Como uma aflição para todas as minhas alegrias. Tu és a agonia de todas as posses És o frio de toda a nudez E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.

[...]

Orfeu da Conceição

[...] ORFEU (as mãos sobre os olhos, como ofuscado) Quem sois vós? Quem sois vós, Senhora Dama? 

A DAMA NEGRA Eu sou a Dama Negra. Não me chamo. Vivo na escuridão. Vim porque ouvi Alguém que me chamava. [...]

Mensagem a Rubem Braga

A meu amigo Rubem Braga Digam que vou, que vamos bem: só não tenho é coragem de escrever Mas digam-lhe. Digam-lhe que é Natal, que os sinos Estão batendo, e estamos no Cavalão: o Menino vai nascer Entre as lágrimas do tempo. Digam-lhe que os tempos estão duros Falta água, falta carne, falta às vezes o ar: há uma angústia Mas fora isso vai-se vivendo. Digam-lhe que é verão no Rio [...]

(Disponível em: www.viniciusdemoraes.com.br/site/. Acesso em: 2/4/2020.)

Há, nos textos, palavras que se referem às três pessoas do discurso, isto é, quem fala (1ª. pessoa), com quem se fala (2ª. pessoa) e de que se fala (3ª. pessoa).

Resposta:

a) 1ª. pessoa: eu (também implícito em direi, busquei, chamo, vivo, vou), nós (implícito em vamos, estamos), me, meu, minha(s); 2ª. pessoa: tu, vós, contigo, te, vós, vocês (implícito em digam), tua; 3ª . pessoa: se, lhe, senhora. Professor: A forma pronominal alguém, no contexto, também se refere a uma pessoa, não determinada. Os pronomes indefinidos serão trabalhados na próxima seção.

b) Professor: Abra a discussão com a turma, considerando que há questões que podem variar dependendo da região ou da época. O emprego do tu, por exemplo, com a forma verbal conjugada na 2ª. pessoa do singular, em algumas regiões do Brasil pode soar formal, em outras, não. O vós é atualmente pouquíssimo utilizado no Brasil, em geral. Comente a substituição da forma nós por a gente, comparando construções como “Nós vamos”/ “A gente vai”, os usos das formas de tratamento você e senhora, etc.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 1 - Capítulo 1 - Linguagem, comunicação e interação - Atividades - As funções da linguagem na construção do texto

Leia o texto:

Meu sonho era ser um origami

Vivi numa resma de papel sobre a enorme mesa de reunião de uma empresa multinacional. Sonhei com uma vida de artista, me tornar um origami, mas veio a decepção: após uma rápida reunião de board eu fui amassado e jogado aqui, na sarjeta. Um papel como eu, de origem nobre, não merecia acabar a vida nesse meio-fio, sendo pisado, chutado, esmagado.

(Disponível em: www.putasacada.com.br/rio-eu-amo-eu-cuido-1121/. Acesso em: 12/2/2020.)

Resposta:

a) Pode-se considerar que o emissor é o foco do texto, pois este se volta para a expressão dos sentimentos dele. Isso é demonstrado pelo uso da 1ª. pessoa, como em “meu sonho”, “vivi”, “sonhei me tornar”, “eu fui amassado”, “um papel como eu”, e pela presença de expressões reveladoras de impressões pessoais do locutor, como em “enorme mesa”, “decepção”, “não merecia”.

b) A função emotiva.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 1 - Capítulo 2 - Texto e discurso — Intertexto e interdiscurso - Atividades - Textualidade, coerência e coesão

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Um texto não pode ser um punhado de frases soltas sem ligação entre si; ele precisa apresentar conexões, que podem ser gramaticais e/ou de ideias. Compreender essas conexões é essencial para ler e produzir textos com eficiência. Leia o poema a seguir.

Para sempre

Quando você disse que era para sempre, Eu ri, Mas acreditei. Esqueci... Já vivi esse para sempre outras vezes, E desiludi. O para sempre Sempre para.

(Paula Pimenta. Confissão. Belo Horizonte: Gutenberg, 2014.)

O primeiro verso se inicia com a palavra quando.

Resposta:

a) • temporal

b) A ação do interlocutor de dizer que era para sempre e a ação do eu lírico de rir.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 6 - O Barroco no Brasil - Atividades - Leitura: A lírica

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Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade; É verdade, meu Deus, que hei delinquido, Delinquido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha à vaidade, Vaidade, que todo me há vencido; Vencido quero ver-me, e arrependido, Arrependido a tanta enormidade.

Arrependido estou de coração, De coração vos busco, dai-me abraços, Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação, A salvação pretendo em tais abraços, Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

(In: Antologia da poesia barroca brasileira, cit., p. 45.)

enormidade: ação descabida, absurda; barbaridade. hei delinquido: tenho cometido delitos; tenho cometido atos ofensivos.

No texto, o eu lírico dirige-se diretamente a Cristo, falando de si mesmo.

Resposta:

a) Humilde, em atitude de confissão.

b) ofender e delinquir

c) Sua maldade.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 8 - Capítulo 20 - O Modernismo no Brasil: a primeira fase - Atividades - Literatura comparada

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A literatura brasileira de diferentes épocas tem sido fonte de inspiração para muitos escritores africanos de língua portuguesa. Leia os poemas a seguir e observe o diálogo entre a poesia do modernista Manuel Bandeira e a do poeta cabo-verdiano Ovídio Martins (1928-1999).

TEXTO 1

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau de sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada

(Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira,

Rosa: a ama-seca que cuidou de Manuel Bandeira e seus irmãos quando meninos. alcaloide: substância química que é encontrada em plantas e, entre outros fins, é usada na fabricação de drogas.

TEXTO 2

Antievasão

Pedirei Suplicarei Chorarei Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chão e prenderei nas mãos convulsas ervas e pedras de sangue

Não vou para Pasárgada

Gritarei Berrarei Matarei

Não vou para Pasárgada.

(Ovídio Martins. In: Literaturas de língua portuguesa: marcos e marcas — Cabo Verde. São Paulo: Arte e Ciência, 2007. p. 53.)

Os versos “Vou-me embora pra Pasárgada / Aqui eu não sou feliz” exprimem o desejo do eu lírico de fugir da realidade concreta e adentrar outro tipo de realidade, sonhada ou idealizada. Esse desejo se associa ao escapismo dos escritores românticos e, aliás, a oposição existente no texto entre o aqui e o faz lembrar diretamente os versos da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.

Minha terra tem primores Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá;

Resposta:

a) Para Gonçalves Dias, o é Portugal; para Bandeira, é a realidade concreta, no Brasil ou em qualquer outro lugar.

b) Para ambos, o representa um mundo de delícias. Contudo, para Gonçalves Dias o é o Brasil, a pátria, enquanto para Bandeira não se coloca a questão da pátria, o é um mundo imaginário.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 9 - Capítulo 21 - O romance de 30 - Atividades - Leitura: Graciliano Ramos:

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Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos — e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.

Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.

— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.

Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

— Você é um bicho, Fabiano.

Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.

Chegara naquela situação medonha — e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.

Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e semente de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.

Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.

Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.

Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que demorava demais, tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.

(Vidas secas. 27. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1970. p. 53-55.)

aió: bolsa usada na caça. binga: isqueiro. camarinha: quarto de dormir. derrear-se: vergar-se, inclinar-se. gretado: rachado, com fendas. mucunã: trepadeira de grande porte, comum nas Guianas e em alguns Estados brasileiros. quipá: planta brasileira da família dos cactos. regalado: com prazer, satisfeito.

Nesse episódio de Vidas secas, é possível extrair algumas informações a respeito do personagem Fabiano e de sua família. 

Resposta:

a) A fuga da seca.

b) O problema da migração, da seca, da miséria, da falta de oportunidades sociais, etc.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 2 - Capítulo 6 - Divisão silábica e acentuação - Atividades - Divisão silábica e acentuação na construção do texto

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Leia este anúncio:

O anúncio faz uso de um recurso gramatical para chamar a atenção do leitor.

Resposta:

a) A divisão silábica, que é empregada de forma inadequada.

b) Deveria ter sido escrito com divisão silábica adequada, pela qual teríamos Wolkswa-gen; Prê-mio; Financia-mento; ser; pos-sível.

c) Porque acentuam-se as paroxítonas terminadas em i.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 5 - Capítulo 10 - A poesia romântica - Atividades - Literatura comparada: Diálogo entre a poesia contemporânea e a poesia social de Castro Alves

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A seguir, você vai fazer a leitura de dois poemas e vai comparar os textos entre si e também com a poesia social de Castro Alves. O primeiro poema é de Adão Ventura, poeta brasileiro da atualidade; o segundo é de Craveirinha (1922-2003), poeta moçambicano do século XX.

TEXTO 1

Negro forro

Minha carta de alforria não me deu fazendas, nem dinheiro no banco, nem bigodes retorcidos.

Minha carta de alforria costurou meus passos aos corredores da noite de minha pele.

forro: liberto da escravidão, alforriado.

(Adão Ventura. In: Ítalo Moriconi, org. Cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 275.)

TEXTO 2

Na cantiga do negro do batel‹o

Se me visses morrer Os milhões de vezes que nasci... Se me visses chorar Os milhões de vezes que te riste... Se me visses gritar Os milhões de vezes que me calei Se me visses cantar Os milhões de vezes que morri E sangrei

Digo-te, irmão europeu Também tu Havias de nascer Havias de chorar Havias de cantar Havias de gritar Havias de morrer E sangrar... Milhões de vezes como eu

batelão: tipo de embarcação.

(Craveirinha. Via Atlântica, n. 5. Revista do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH da USP. São Paulo, 2002. p. 100.)

Partindo de sua experiência pessoal, o eu lírico do poema “Negro forro” avalia os efeitos da abolição da escravatura. De acordo com a 1ª. estrofe do poema, a abolição não trouxe “fazendas”, “dinheiro no banco” nem “bigodes retorcidos”.

Resposta:

a) Representam riqueza, bens materiais.

b) Aos brancos.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 3 - Capítulo 13 - A preposição e a conjunção - Atividades - Semântica e discurso

Leia as tiras a seguir e responda à questão.

O humor de ambas as tiras é construído com base na polissemia, isto é, nas múltiplas possibilidades de sentido, da preposição de.

Resposta:

a) No contexto, tirar leite de pode significar tanto “ordenhar” como “subtrair, roubar o leite”.

b) Os sentidos de “origem/procedência” do leite e de “posse” do leite.

c) “Cadeira de balanço” é um tipo de cadeira; “cadeira do balanço” é a parte do balanço que serve de assento.

d) Professor: Abra a discussão com a turma e chame a atenção dos alunos para o uso do masculino como uma designação genérica. Assim, não necessariamente a ambiguidade seria desfeita, uma vez que “como se tira leite do gato” pode se referir à espécie dos gatos.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 9 - Capítulo 22 - A poesia de 30 - Atividades - Leitura: Vinícius de Moraes

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TEXTO 1

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.

(Nova antologia poética de Vinícius de Moraes, sel. e org. Antonio Cícero e Educanaã Ferraz.São Paulo: Cia. das Letras, Editora Schwarcz Ltda., 2008. p. 100. Autorizado pela VM Empreendimentos Artísticos e Culturais Ltda. © VM e © Cia. das Letras, Editora Schwarcz.)

TEXTO 2

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

(Idem, p. 39.)

Observe a construção dos textos. Identifique quais aspectos formais dos poemas remetem à tradição clássica.

Resposta:

O uso do soneto, do verso decassílabo e a presença de uma sintaxe e um vocabulário apurados.

Atividade 1 - Língua Portuguesa - Unidade 9 - Capítulo 21 - O romance de 30 - Atividades - Leitura: Érico Veríssimo

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O texto a seguir faz parte de Ana Terra, episódio de “O continente”, que conta a origem da família Terra. No início da ação de Ana Terra, situado em 1977, a moça se encontra à beira de um regato quando descobre um homem ferido e desmaiado, que depois se soube chamar Pedro Missioneiro, mestiço de índio e português, criado e educado na missão de São Miguel. Por sua habilidade com cavalos, como oleiro e com a música, ganha a confiança de todos. No verão, Ana fica grávida de Pedro, o que não é aceito pela família.

Vieram outros dias e outras noites. E nunca mais o nome de Pedro foi pronunciado naquela estância. O inverno entrou e houve horas, longas horas, em que o minuano arrepelou as macegas e cortou o ar como uma navalha. Vieram as chuvas, que prenderam na cabana os cinco membros da família, que às vezes se reuniam junto do fogo, onde os homens ficavam a falar da lavoura, do gado, do tempo. Para Maneco Terra a filha estava morta e enterrada: não tomava conhecimento de sua presença naquela casa. Antônio e Horácio tratavam Ana com uma aspereza meio constrangida, que lhes vinha de uma consciência culpada. Ao lhe dirigirem a palavra, não olhavam para ela de frente, e ficavam desconcertados quando, para lhe evitar os olhos, baixavam a cabeça e davam com o ventre crescido da irmã.

Quando não chovia Ana descia para a sanga. Agora levava duas cargas: a cesta de roupa e o filho, que cada vez lhe pesava mais. Muitas vezes pela manhã seus pés pisavam a geada do caminho. E na água gelada seus dedos ficavam roxos e entanguidos. Durante todo o tempo que passava junto da sanga, a lembrança de Pedro permanecia com ela.

Um dia, olhando o bordado branco que a espuma do sabão fazia na água, teve a sensação de que Pedro nunca tinha existido, e que tudo o que acontecera não passara dum pesadelo. Mas nesse mesmo instante o filho começou a mexer-se em suas entranhas e ela passou a brincar com uma ideia que dali por diante lhe daria a coragem necessária para enfrentar os momentos duros que estavam para vir. Ela trazia Pedro dentro de si. Pedro ia nascer de novo e portanto tudo estava bem e o mundo no fim de contas não era tão mau. Voltou para casa exaltada...

[…]

Mas num outro dia foi tomada de profunda melancolia e escondeu-se para chorar. Ficou na frente da casa, olhando o horizonte e esperando que longe surgisse o vulto dum cavaleiro – Pedro voltando para casa; porque ele não tinha morrido: conseguira fugir e agora vinha buscar a mulher e o filho. Um entardecer sentiu o repentino desejo de montar a cavalo e sair pelo campo em busca do cadáver de seu homem: levaria uma pá, revolveria a terra ao redor de todas as árvores solitárias que encontrasse... Mas montar a cavalo no estado em que se encontrava? Loucura. Seu ventre estava cada vez maior. E Ana notava que, quanto mais ele crescia, mais aumentava a irritação dos irmãos. O pai, esse nunca olhava para ela nem lhe dirigia a menor palavra. Comia em silêncio, de olhos baixos, pigarreando de quando em quando, conversando com os filhos ou pedindo uma ou outra coisa à mulher.

[…]

Findava mais um ano e os pêssegos do pomar já estavam quase maduros quando Ana começou a sentir as primeiras dores do parto. Foi num anoitecer de ar transparente e céu limpo. Ao ouvirem os gemidos da rapariga, os três homens encilharam os cavalos, montaram e se foram, sem dizer para onde. D. Henriqueta viu-os partir e não perguntou nada.

Naquela noite nasceu o filho de Ana Terra. A avó cortou-lhe o cordão umbilical com a velha tesoura de podar. E o sol já estava alto quando os homens voltaram, apearam e vieram tomar mate. Ouviram choro de criança na cabana, mas não perguntaram nada nem foram olhar o recém-nascido.

— É um menino! — disse D. Henriqueta ao marido, sem poder conter um contentamento nervoso.

Maneco pigarreou mas não disse palavra. Quando o pai saiu para fora, Ana ouviu Horácio cochichar para a mãe:

— Ela vai bem?

— Vai indo, graças a Deus — respondeu D. Henriqueta. — Está com os ubres cheios. Tem mais leite que uma vaca — acrescentou com orgulho.

Naquele instante Ana dava de mamar ao filho. Estava serena, de uma serenidade de céu despejado, depois duma grande chuva.

Três dias depois já se achava de pé, trabalhando. E sempre que ia lavar roupa levava o filho dentro da cesta, e enquanto batia nas pedras as camisas e calças e vestidos, deixava a criança deitada a seu lado. E cantava para ela velhas cantigas que julgava esquecidas, mas que agora lhe brotavam milagrosamente na memória. E a água corria, e a criança ficava de olhos muito abertos, com a sombra móvel dos ramos a dançar-lhe no rostinho cor de marfim.

Pelos cálculos de Antônio deviam já estar no ano-novo. Uma noite, depois do jantar, Horácio disse:

— Se não me engano, estamos agora no 79.

Maneco Terra suspirou.

— Eu só queria saber que nova desgraça este ano vai nos trazer...

Disse essas palavras e começou a enrolar tristemente um cigarro.

macega: campina com capim alto e seco. minuano: vento forte, frio e cortante que sopra no Rio Grande do Sul. entanguido: tolhido de frio. sanga: córrego. encilhar: colocar arreios.

(Ana Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 50-2.)

O tempo e o vento é, provavelmente, a mais completa produção literária sobre a formação histórica, linguística e cultural do Rio Grande do Sul. Identifique no texto elementos que comprovam a preocupação do autor em caracterizar seu Estado quanto a aspectos linguísticos, culturais, geográficos.

Resposta:

Principalmente termos que aparecem na descrição da paisagem, como minuano, macega, estância, sanga, e a menção ao hábito de tomar mate.

Atividade 1 - Linguagens e suas tecnologias - Bloco 2 - Recursos verbais e não verbais na informação - Exercícios - Sequência pictórica de procedimentos (SPP)

Quais são as semelhanças e as diferenças entre videotutoriais e gêneros como infográficos e SPPs?

Resposta:

Resposta pessoal. É possível identificar, em primeiro lugar, o forte apoio na combinação entre imagens e poucos elementos verbais como a principal semelhança entre os gêneros. Assim como nos SPPs e nos infográficos, nos videotutoriais são selecionados os principais passos que precisam ser enfatizados para que a reprodução da receita dê certo. Como diferenças, vale destacar o uso de recursos sonoros – ainda que tenham sido pouco utilizados nesse vídeo – e a possibilidade de mostrar com mais detalhe movimentos que estariam “congelados” em fotos ou ilustrações.

Estes materiais são parte integrante das coleções da editora Saraiva. Eles poderão ser reproduzidos desde que o título das obras e suas respectivas autorias sejam sempre citadas